Felicidade púrpura
ou
Uma avalanche do fim
Dio Santanna
Cintila.
Ainda em mim, incandescente. Pincela entre os matizes das felicidades banais e as garimpadas, por amor, à exaustão. Incontidas. Uma felicidade púrpura. Louca e imperiosa condição dos que não delegam as paixões. Paixão, revida-se com paixão.
Contorce a dor que não se sabe ser.
Verte. O fim em lava. Escorre pela pele. Fere, queima. Arde e não finda. Reluz em labaredas o que a memória, endossada pela distância, escolheu guardar. Como se o desejo se bastasse no desejo.
Contorce a dor que não se sabe ser.
Presságios. Apesar deles, o mar revolto não intimida. Desatino é não se lançar. O depois, fica para depois, brindam os amantes. Vira-se a noite. Vira-se o barco. Vira-se poesia. Faz-se do agora, o tempo. O instante nega os futuros.
Contorce a dor que não se sabe ser.
Flutua. Lua que não mais inspira, esconde -se sob o lençol negro da noite, a parir os dias que pelas frestas espiam a minha alma vazia. Nascem saudades urgentes. Dessas, que à revelia, se atravessam nas retinas, feito gente presente.
Contorce a dor que não se sabe ser.
Fresta. Feixe de luz. Flor que se basta. Resta vida.
Um rastro de felicidade espreita, invade minha memória. Inquieta minha mente. Despudorada-mente. Provoca meus sentidos. E sonha ser caminho apesar do fim. Apesar de ser quimera.
Contorce a dor que não se sabe ser.
Cintila.