Duas estátuas numa praça que deve se chamar Praça da República. Em pé está o poeta Carlos Drummond de Andrade e sentado, o poeta Mário Quintana. De costas para eles aparece outra sobre um pedestal com um cavalo montado por um homem que parece ser o marechal Deodoro da Fonseca. Vejo dois símbolos nestes dois planos. Imagino o que estes dois primeiros conversariam? Creio que, mesmo que falassem sobre um jogo de futebol no último domingo, estariam abordando aspectos transcendentes à crônica usual feita. Seria uma prosa poética, culta. O Deodoro representa um momento histórico em que, através da força, se promoveu uma mudança política importante. E esta se fez por pressão social, em razão das necessidades que o povo sentia. Então, enquanto evolução social, também temos uma cultura que a determinou. Temos assim duas abordagens para o termo cultura: a poética e a política. Bem como podem haver muitas outras.
O cantor e compositor jamaicano Bob Marley escreveu: “Um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes”. Outro pensador, o Herbert de Souza – o Betinho – disse que “Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura”. O Brasil é uma país grande, que contém muitas culturas, diferenciadas regionalmente. Poderíamos dizer então que temos muitas culturas? A resposta é “Não”! A cultura era apenas resultado das tradições. Nunca se deu a prioridade que o assunto merece, da parte do nossas elites. Permanecemos como diria Bilac sobre a língua portuguesa: “Inculta e bela”.
Apesar dos esforços de José Bonifácio, que quando da independência, tinha um projeto para o país, e do Joaquim Nabuco, que na libertação dos escravos, tinha também um projeto que incluía a alfabetização destes. Nada fizeram. O Brasil se manteve como propriedade dividida em feudos locais com interesses apenas primário-exportadores. Achavam que não era necessário ter cultura para plantar café, cana-de-açúcar etc.
A primeira universidade apareceu no primeiro quartel do século XX, em razão da competição hegemônica que se formou com a crise da política do “café-com-leite”, que foi a USP. Pelo mesmo motivo surgiu a segunda, uns dez anos depois, no Rio de Janeiro por ser capital federal. Desde então, foram sendo erguidas universidades públicas nos demais estados, até a década de 1970.
A Ciência e a Tecnologia apenas se tornaram importantes e ganharam prioridade a partir dos anos de 1970, com politicas destinadas a formar grupos de pesquisas no país. Entramos enfim na corrida da competição internacional. Mas muito atrasados. Ainda temos índices de analfabetismo elevados. Estamos, como diria o Drummond, sendo um gauche na vida. Somos ainda uma árvore quase sem raízes.