Pedágio

Autora: Luciana Farias

Ele esperou a contemplação do consórcio do carro para, só então, convidá-la a passar o feriadão na praia. Depois do divórcio, morando com a mãe e tendo frequentes abalos eréteis, precisava reforçar sua virilidade. Nada como um utilitário esportivo enorme e reluzente, com um motor brutal e desnecessário, para aliviar-lhe a insegurança.

Partiram ao litoral ao som da playlist que ele preparara com cuidado, mas que, obviamente, dissera-lhe já estar no automático do celular. Ela sorria encantada.

Ele não poderia estar com mais sorte. Era uma sexta-feira de sol. Ela estava linda em seu mini-vestido floreado, cruzando as pernas para todos os lados e deixando a penugem dourada das coxas à mostra. Aquilo o excitava e ela percebia.

Ele acelerava nas retas, sentia-se potente. Com uma mão no volante, deixava a outra escorregar por baixo da saia. Olhava-a de relance, ouvia sua respiração aprofundar.

Aos poucos, sentiu sua calça jeans apertando. Percebeu que ela notou o volume no meio das pernas. Sorriu para si mesmo, renascia. Chegando ao destino, não deixaria pedra sobre pedra. Ela pediria água. Seriam horas de luxúria desenfreada. Ele resgataria sua fama.

Lembrou dos velhos tempos, quando todas lhe queriam e ele mal dava conta. Exibia-se nas rodas de amigos, com aquela falsa modéstia típica dos canalhas, dizendo que não entendia por que as mulheres caiam a seus pés já que nem era tudo isso.

Quando virou para dizer-lhe algum galanteio, deparou com a cabeça dela abaixando-se em direção a seu colo. Ela abriu o botão, baixou o zíper, olhou para cima e sorriu-lhe com o canto da boca. Ele sentiu a garganta secar, segurou firme no volante com a mão esquerda e, com a direita, acariciou-lhe a nuca.
Um momento épico. Já pensava em contar aos amigos que estava de volta à ativa. Podia até ouvir os elogios e os tapinhas nas costas. “Esse é mestre!”, diriam em meio a risadas e brindes de cerveja artesanal.

O último episódio semelhante havia ocorrido nos tempos de faculdade, num carro velho e com uma moça de estética duvidosa. Agora, não. Um carrão, uma loura de cinema e liberdade total. O céu era o limite do prazer. Pensava inclusive em alterar os dias de visita dos filhos com a ex-mulher para ter mais feriados disponíveis nos próximos meses.

Sentia o êxtase se aproximando. Ela sabia o que estava fazendo. Ele estava ofegante. Por um segundo, quase perdeu o controle. Conteve-se. Queria mais, queria respirar o ar da beira do precipício.
Viu a placa do pedágio, fez menção de dizer algo, mas ela estava no auge de sua técnica e ele pensou que mais alguns segundos não importariam.

Involuntariamente, fechou os olhos e largou o volante no momento em que sentiu-se explodir.
A atendente na cabine morreu na hora, com estilhaços de vidro que lhe atingiram a jugular.
Na segunda-feira, após as manchetes de política e antes dos lances do futebol, os telejornais noticiaram as três mortes ocorridas no feriado.

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