cronica inspirada em yoshitaka amano

Ménage à trois

Autora: Michele Justo iost

Silêncio no tribunal. Que comecem as defesas, seja lá do que for. A humanidade faz-se cruel o bastante para o juízo final de cada santo dia. E não ouse ser inocente, pois será trucidado. Todos são inocentes até que se prove o contrário, aliás, o intuito principal deste júri é exatamente esse. Vamos provar o tempo inteiro em um rito insano – escolhemos a profissão perfeita, nossa família é exemplar, não nos falta dinheiro para as contas, não somos depravados, só bebemos socialmente, nos importamos com o planeta, temos os melhores luxos, jamais faríamos algo ilícito, temos energia e vitalidade, sabemos tudo sobre quase todos os assuntos, entendemos assombrosamente de política-religião-futebol-e-arte, não usamos photoshop, manjamos de astrologia, nossa vida social merece destaque, temos amores correspondidos e filhos de comercial de margarina, nunca maldizemos os outros, transpiramos sucesso. Somos. Temos. Reafirmamos para autoconvencimento, mas sempre tem quem duvide e o júri da vida alheia não tem fim.

Acontece que o malhete não para de bater; muda de mão, dá veredito errado o tempo inteiro. Em algum momento vamos trocar a toga pela tornozeleira eletrônica, então, alguém assumirá de meritíssimo. Esse tribunal é bem estranho, afinal, quem avalia é o mais despreparado. Fica o vazio da burrice e a esdrúxula perda de tempo. Em última instância, o deboche, sentença do perdedor.

Ficou decretada a massificação das opiniões e a subversiva teoria antidemocrática. A minha verdade, a verdade dos outros e a verdade em si. Três não iguais, misturados por fatos muito sórdidos e refugados pela sociedade. Ménage à trois com tudo o que se tem direito. E sempre sobra menos para alguém, a medida é tênue.

Há permissiva autoridade na aprovação, uma credencial para fazer parte do seleto cordel voraz. O espaço nessa carnavalesca dança de lados desafia o poder individual. Escolher nem sempre é opção e o rumo torna-se mão única.

O Réu será condenado.

Se o consenso não existe, vale dar voz à importância? Se faça de bobo. Queira o Ménage, quantifique a orgia das bocas e das línguas ferrenhas.

Por estarmos na mesma cama, seremos absolvidos.

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