Crítica

– Mas, Rodolfo, por que de cima?

– É que…

– Tu ficas parecendo acima da pessoa retratada.

– Bom…

– Eu diria que tu deverias te abaixar, e ficar no nível dessa senhora da tua foto.

– Assim…

– Tu sabes, né? Hoje em dia, com esses drones… Talvez com um drone a foto não ficasse muito diferente. Uma mulher negra, sentada, com saia branca, camiseta com estampa de Iemanjá, turbante azul, pés com alpargatas, e uma cesta (guloseimas na cesta?).

– Bem…

– Além disso, se tivesses ficado alinhado com ela, talvez tivéssemos um contexto melhor do local. Seria no Mercado Público de Porto Alegre? Em qual esquina?

– Pô, tchê, tu nem me deixas falar.

– É que não sei. Muitas minhocas na minha cabeça. Tu sabes, né? Muito da iconografia dos negros brasileiros, no final do século XIX, retratam escravizados de ganho. Muitos sentados. De pés descalços. E tua imagem me evoca isso. Inclusive o sorriso que me parece amarelado, constrangido, da mulher.

– Sim. Mas tudo isso são coisas tuas. Tu que estás enxergando tudo isso na minha foto.

– Então fala das tuas intenções.

– Agora não. Fiquei chateado com teus comentários.

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