Reflexos
Ângela Puccinelli
Há tempos estou me procurando, mas não me encontro.
Não me vejo nem nos reflexos: nos espelhos, nas águas,
nem nas panelas brilhantemente polidas.
O que vejo é uma imagem distorcida. De quem será? Não sou eu.
Difícil entender meu pensamento.
Sem correntes a me prender, por que fico aqui?
Há tanta vida lá fora.
Estou me sentindo como aqueles caras do Mito da Caverna, de Platão.
Consumo os pensamentos alheios, as notícias, as mídias.
Parece que não consigo refletir por mim mesma.
Como é difícil ser racional quando se ama tanto.
Mas, enquanto não consigo quebrar os elos, vou ficando.
Minha sorte é que pelo menos nesta caverna tem Wi-Fi.