Humano
Jaqueline Behrend Silva
No leito homem despe sua identidade. À merce dos cuidados de outrem não tem força para gerir sua vida.
Momentos de desespero, fraqueza em que a fragilidade se expõe.
Despir-se não significa nos tornarmos mais ou menos humanos.
Não podemos transformar pessoas em máquinas inanimadas de entrada e saída de canos.
Perfurações , mudanças de hábitos , formas diversas de alimentação .
Humanos é o que somos, necessitamos um sorriso, atenção individual, um livro, uma fotografia.
Um abraço, uma frase de alegria e positividade.
Mãos que cumprimentam, hoje, cotovelos que se tocam.
Carinho no olhar conduz a melhora das defesas, aumenta a resposta ao tratamento das doenças.
Se não conseguirmos a cura, que possamos oferecer momentos de desvelo.
Será que é necessário despir àquele que ali se encontra? Reavaliar.
Solidariedade, atenção, misericórdia.
Individualizar cada um que está no leito.
Sabemos da necessidade de protocolos, de rotinas e diretrizes, mas não podemos fazer que isto despersonalize aquele que está no hospitalizado. Ao contrário, devemos nos utilizar destes recursos para oferecermos melhores condutas e assim mais tempo dispensar com atenção e zelo.
Paciente é ser humano, não é máquina. Não é número, nem código de barra.
Coração que pulsa, rim que filtra.
Lata que se dissipa e ser humano que reaparece, volta a sorrir.
O anoitecer se desvanece e a luz da manhã volta a brilhar através da janela.
O sorriso substituirá ao abandono.
O homem de lata é um homem de fato.