Ananyr Fajardo em foto de Leandro Faccini

Fronteiras

Ananyr Porto Fajardo

As fronteiras nos limitam, e não apenas por constrangimentos geopolíticos. Independentemente de sua origem, não cruzamos daqui para lá sem atender a algum requisito ou receber alguma penalidade.

A atração pelo outro lado nos leva a um ir-e-vir movido por um desejo pelo diferente ou pelo necessário. Novos ares nos seduzem, mas também podem nos refugar. Ao olharmos para a outra margem, nos deparamos com um espaço que pode ser preenchido por transgressões daquilo que é permitido ou proibido cá e lá.

Este encantamento pelo novo (ou pelo convencional, dependendo do ponto de vista) renova a vontade de experienciar outros ares. Às vezes, “aqui” estamos em uma situação que não nos garante mais nada, então a alternativa pode estar “ali”. A tentação pelo desconhecido nos move a ponto de gerar receio pelo que poderíamos arriscar para dele desfrutar. Da mesma forma, a fixação pelo sabido pode denotar um magnetismo tão forte pelo diferente que assusta quem o vivencia. Tal qual um mapa interativo cujas linhas se atualizam a cada página, o fascínio pelo diverso pode ser mais ou menos intenso a cada nova vontade de (re)descoberta.

A travessia pode ser custosa, seja pela vida deixada para trás por um período curto ou indefinido, seja pela cobrança de retorno – e se não nos deixarem passar? Qual o custo aceitável a pagar por uma nova vida? Quanto tempo teremos para decidir ir em frente ou recuar?

Tudo isso se mescla sem razão evidente ou confessável, mas seguimos cruzando para lá e para cá. Continuamos a refletir sobre a fronteira entre o bem e o mal, entre bem feito e mal feito, bem querer e mal querer, maldito e bendito, bem-estar e mal-estar.

Assim como os cabelos ao vento, que se rebelam para ocupar outras linhas divisórias e, desarrumados, nos fazem outros, o limiar aceitável é definido a cada momento para cada um de nós. Mas sempre damos um jeitinho.

Quero ir e voltar, ou ficar.

 

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