A vingança de Dionísio

Os deuses podem tudo, menos descumprir suas promessas. Zeus prometeu a Sêmele que lhe daria qualquer coisa que ela pedisse.

Na cidade de Tebas, nasceu Sêmele, filha do rei Cadmo e da rainha Harmonia.

Muito jovem ela se apaixonou pelo senhor do Olimpo, que se apresentava na forma de um belíssimo rapaz. Suas tias a maldiziam pelas costas, enciumadas da felicidade manifestada a cada encontro com o amante. Corria pela cidade o comentário de que ela se deitava com um forasteiro e não com um deus.

As notícias logo chegaram à Hera, esposa sempre traída, que tinha por costume punir as amantes e não o marido infiel. Desde que a relação com seu esposo-irmão se deteriorou, gastava boa parte de seu tempo em bolar vinganças contra os novos amores de Zeus.

A deusa se transmutou na velha vizinha de Sêmele. Confortou a moça que sofria com as insinuações de seus parentes, ainda mais naquele momento, em que era evidente sua gravidez.

– Tenho um conselho minha filha: para acabar com as fofocas peça ao deus que se mostre em sua real aparência e esplendor. Isso vai calar a boca destas vadias.

Foi assim que Sêmele exigiu ao relutante Zeus que se mostrasse em pura epifania. Claro que nenhum mortal está preparado para tal aventura, e a jovem princesa virou um punhado de cinzas. Restou da catástrofe, pulsando, o pequeno feto de seis meses.

O deus o acolheu delicadamente entre as mãos e pediu a Hermes que o ajudasse a abrir um espaço dentro de sua própria cocha, para ali dar continuidade à gestação. Três meses depois nascia o pequeno Dionísio, resgatado dos músculos da perna de seu pai.

Dionísio cresceu e se tornou o deus do vinho, do teatro e do êxtase.

Um dia, após percorrer o mundo e conhecer os mistérios do Egito e da Índia, ele resolveu que era o momento de reencontrar suas origens. Voltou a Tebas onde encontrou os restos da morada de sua mãe ainda em chamas. Descobriu que, ao contrário de ser reverenciada, a memória de Sêmele era desprezada e mal falada.

Irado, iniciou uma vingança, enlouquecendo suas tias, e, depois, gostando do resultado, aplicou o encantamento a todas as mulheres da cidade.

As casas ficaram abandonadas e nas ruas avistava-se somente peças de roupas atiradas no chão e sobre arbustos. Nos bosques ao redor da cidade se ouviam uivos, risadas e música. Em cortejo as mulheres seguiam ao deus que se acompanhava por vários sátiros. Com suas enormes mãos amassava uvas e transformava o suco em uma bebida inebriante.

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