A silhueta de um violinista com seu instrumento ao lado de uma bela mulher como que dançando, tendo ao fundo uma enorme lua, me evoca o quê? Posso fazer projeções, me colocando no lugar do músico. Penso um pouco! Mas nunca vivi isso assim. Na verdade eu posso me considerar um instrumentista também. Mas minha lida é com o saxofone e uma flauta transversa. Não cabe naquela imagem.
Afinal, o que me emociona? É a lua! A maravilhosa lua! Com sua luz irradiando uma energia poderosa, e que nos enleva poeticamente. Ocorre que agora eu moro em cidade com prédios cada vez mais altos, que nos cercaram no horizonte e para cima. Então, nunca mais pude ver a lua como na minha adolescência quando morava na beira da praia de Boa Viagem em Recife. Horizontes muito amplos nos deixavam ver sempre a lua e as estrelas. Quando ela saía, logo cedo, as estrelas quase se apagavam para deixar ver com a sua força luminosa, a protagonista da noite.
Todo mês tínhamos dias sagrados que eram os de lua cheia. À noite, apenas tínhamos um programa: ir pescar sobre os arrecifes, iluminados e com maré baixa. Mas também motivados pela atração lunar, que nos deixava mais leves e relaxados. Parece que nestas noites as mulheres têm maior propensão a parir. E nos hospícios as coisas se complicam mais. Tudo por causa da lua cheia.
Juntávamos num grupo de amigos, ora com nossas varas de pescar, ora com latinetes. Estes eram latas de leite em pó vazias com um pedaço de cabo de vassoura preso por dentro para segurar, onde enrolávamos a linha de pesca. Não tínhamos dinheiro para comprar molinetes de verdade. Mas dava para pescar da mesma forma. Outras vezes mergulhávamos para pescar com arpões improvisados feitos com ferro de construção. Às vezes, pegávamos moreias e, noutras, lagostas. E muitas vezes não pegávamos nada.
Mas eram momentos incríveis, nos quais podíamos apreciar a lua com seus mágicos reflexos que oscilavam nas ondas de um mar calmo, que nos levavam a sentir com êxtase, esta maravilha da natureza. O importante mesmo era este pequeno astro que com seu poder cósmico fazia com que nos sentíssemos bem – apesar de todos os problemas próprios da adolescência.
Assim, creio que sempre podemos apreciar a lua. Ela é a personagem principal. Além da sua beleza plástica, nos leva a magia. Tudo o mais será circunstancial. Terá pouca importância. Talvez seja por isso que o São Jorge nunca sai de lá com seu dragão. Viva a lua!