Urbana

Uma das lembranças mais doces da minha infância são as viagens que fazíamos, eu e minha irmã, com meus avós. Eles, apaixonados pelo Rio Grande, adoravam acampar em lugarejos do interior do estado. Meu avô fazia questão de que apreciássemos a paisagem, apontando cada morro e rio à beira da estrada. Minha irmã ficava atenta, eu dormia. Chão e mais chão, eu só me acendia quando enxergava as luzes denunciando que estávamos entrando em alguma pequena cidade. Gostava de imaginar quem morava ali, o que estariam fazendo por trás das janelas das casas. Acho que meu fascínio por luzes começou nesta época e o apelido de Urbana, recebido do meu tio, também.

Outra memória gostosa é de quando iniciava o mês de dezembro. As ruas e casas da Tristeza se enfeitavam de coloridos pisca-piscas, ocasião em que montávamos o pinheirinho com bolas, estrelas, guirlandas, luzinhas brilhantes e o presépio. Passávamos os Natais na casa da minha bisavó materna, local onde hoje funciona o Zaffari da Otto Niemeyer. Lá não faltavam enfeites natalinos e o tradicional amigo secreto.

Hoje moro no sétimo andar de um condomínio de apartamentos, onde fui agraciada com uma fresta de vista do Guaíba. Minhas janelas não tem cortinas e as persianas quase nunca são fechadas. Gosto de, mesmo morando só, me sentir próxima das pessoas. Luzes para mim sempre representaram vida e movimento. Não me julguem equivocadamente, curto muito um fim de semana tranquilo em alguma prainha afastada ou sítio, de preferência, rodeada de amigos, mas não abro mão das cores e sons da cidade.


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