Você parou para pensar que, se um dia se tornasse uma pessoa com deficiência física, continuaria sendo você? Pois tem sua mente, alma, essência, dignidade, e um corpo pode ser pouco diante do seu universo.
Você já pensou que, se um dia seu filho se tornasse uma pessoa com esse tipo de deficiência, você aprenderia o significado de acessibilidade e reabilitação? Pois ele precisaria de ruas sem buracos, rampas nas esquinas, nos ônibus, escolas, universidades, restaurantes, baladas. E de faixas acessíveis nas ruas de pedra das cidades históricas, de brinquedos adaptados em parques de diversão, além de reabilitação em centros multidisciplinares.
Você sabia que, mesmo sem deficiência física, você tem necessidades? Pois precisa de mesa e cadeira para estudar, mas uma pessoa com deficiência pode já ter a cadeira, então a mesa acoplada à cadeira não a atende. Quer dizer, você apenas tem o privilégio de usufruir de ambientes adaptados para você.
Você parou para pensar que, se um dia se tornasse uma pessoa com qualquer tipo de deficiência, iria querer trabalhar; seja para sair de casa, ser remunerada, seja porque o trabalho dignifica? Pois o comprometimento das empresas deveria abranger não só a oferta de vagas de emprego – e sequer a cota mínima é respeitada –, mas possibilitar as condições para a manutenção da vaga, como acessibilidade para surdos, por exemplo.
Você já pensou que, se um dia seu filho se tornasse uma pessoa com qualquer deficiência, você não iria gostar dos olhares de piedade, das falas infantilizadas ou caritativas em relação a ele, de que as pessoas passassem a se dirigir a você quando quisessem falar com ele? Pois seja na hipótese de deficiência física, seja em muitos casos de deficiência cognitiva, a pessoa pode responder por si. Sem falar que você abandonaria seu narcisismo e aprenderia sobre alteridade, quiçá sobre a delicadeza da comunicação não-verbal e da escuta.
Você sabia que, assim como deveria estudar sobre a negritude, também deveria entender mais sobre a pessoa com deficiência? Pois a ideia das interseccionalidades apresentada pelo feminismo negro é aplicável aos diversos sujeitos com deficiência e, portanto, têm necessidades distintas a serem atendidas pelo poder público: mulheres, homens, crianças, negros, indígenas, brancos, cisgêneros, transgêneros.
E você sabe por que o movimento das pessoas com deficiência (PCDs) escolheu essa nomenclatura? Pois pessoas com necessidades especiais não as designa, já que contempla outros sujeitos: idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo. Assim como portador de deficiência ou deficiente não as define. Elas não portam nada. E a deficiência é apenas uma característica do sujeito, como tantas outras.