Madalena está sentada, frente a uns desenhos de fantasias, para o próximo espetáculo de suas alunas de dança. Seus olhos veem, mas na verdade não registram o que estão vendo. Nos últimos tempos anda mudada. Seus amigos, colegas no trabalho e até os alunos, notam uma postura diferente. Ela, sempre tão ativa, também se estranha; sente uma apatia inexplicável. Às vezes pensa em largar tudo, tirar férias e talvez até sair numa viagem.
Dedicou-se ao balé, fazendo dele seu objetivo para a vida profissional. Organizada, metódica, tentou alguns poucos relacionamentos, que não deram certo; desistiu de procurar um companheiro e agora que a meia idade está chegando, a solidão bateu à sua porta. Olha o calendário e nota, com certo desespero, que está prestes a completar 50 anos.
Um dia, ao sair para o trabalho, encontra no elevador o novo vizinho. Madá, sempre discreta, olha de soslaio e tem uma rápida e primeira impressão: grisalho, boa aparência, bem vestido. O necessário para lhe despertar a curiosidade. No dia seguinte, novo encontro. Não foi coincidência. Os horários de trabalho são os mesmos.
— Bom dia! – Carlos, estendendo a mão. Ela corresponde:
— Madalena, mas pode me chamar Madá.
O contato diário não passava do costumeiro “bom dia”. Até que, depois de muitos encontros no elevador, Carlos a convida para um café.
O convite aceito foi o primeiro. Depois a vida seguiu como o esperado. Cinema , teatro, palestras… até que uma noite, saindo de um restaurante, ela, sem mais nem menos, falou no elevador:
— Aceitas abrirmos um vinho?