No limite
Ananyr Porto Fajardo
Tudo a lembrava de que estava chegando lá.
Dirigia sempre no limite de velocidade permitido na cidade, mesmo que houvesse 10% de margem de segurança, ou de infração – afinal, era 60 ou 66 km/hora?
Trabalhava, há décadas, a jornada semanal permitida à sua profissão. Ao faltar um minuto para completar a sexagésima hora, o relógio-ponto se arrastava para testar sua paciência.
Com 1,60 de altura, o critério de saúde já tinha sido abandonado e rumava para o sobrepeso.
Tinha sido convencida pelo vendedor on line a comprar um novo espremedor de frutas com 60 rpm e aproveitou a oferta de um ventilador de 60 cm de diâmetro para o quarto à espera de hóspedes.
Em sessenta segundos, reabria o elevador para buscar a chave esquecida, respondia aquele Whats chato com um mero Ok, descia escada abaixo em busca do gato fujão.
Dois meses sem ver os netos, e a saudade foi se prolongando à espera da vacina. Este ano celebraria seu aniversário via computador.
Aos 59, estava no limiar. Saturno já tinha ido e voltado duas vezes.
Prestes a entrar na terceira melhor idade, ansiava pelos benefícios anunciados. Ainda bem que amava o inverno.