Tal como as regras ortográficas, os fins deveriam servir para organizar coisas e permitir virar a página. Estruturando o raciocínio ao que parece adequado. Coesão do texto, do enredo, da história. Não confundir quem lê. Objetividade para concluir todos os raciocínios com clareza, discernimento, fluidez. Assim funcionaria com mais eficiência, tal como um botão de desligar, mesmo que não seja em comum acordo.
Alguém quebra o vidro e ativa um sinalizador. Imediatamente um novo plano pode ser reiniciado. Lembra quando a folha terminava e puxávamos a ponta que ficava presa na máquina de escrever? Colocávamos outro papel e então era só girar de novo e bate nas teclas com força. Simples. Por que com a gente não pode ser assim?
Ontem eu li um livro inteiro pensando que precisava saber o que acontecia no final. Ao mesmo tempo tentei aproveitar todos os minutos entre a primeira página e a última. Sempre leio com o esforço de antever o que me espera e, muito antes da última página, fui conduzida à certeza de que eles não ficariam juntos. Ela repetia que sempre experimentava a intensidade da última vez. A certeza de que tudo tem termo e que nossos dias estão contados eu também experimentei.
Fins são sempre despóticos. Aplicam-se com o único objetivo de que a falta de continuidade faça sucumbir todos os planos que não serão. Hoje é mais um dia de chuva, no vidro marcas do que me parecem pequenas lágrimas, diante de uma frágil paisagem de um amor inventado. Amar é mesmo a Torre Eiffel verdadeira ou é o nosso olhar encantando por uma imagem distorcida? Plano de fundo de pensamentos, sobressalto de sonho, tristeza de se precaver do desencanto. Alegria disruptiva. É tudo que penso e que não soube descrever. Lugar certo para as reticências…