Como diz o Peninha, gaúcho pode falar mal de gaúcho. Quem não pode é o carioca, o paulista, o baiano, o mineiro, gente que não é daqui. Isso não se aceita! Como sou gaúcha, posso criticar até Porto Alegre, nossa capital. Vivo aqui.
Gaúcho, quando fala mal de gaúcho, expressa a voz do coração, mais ou menos como os pais falando dos filhos. Ainda que as palavras possam soar um pouco grosseiras, o objetivo é construir. Amamos nossos pagos, nossa praia ventosa e cor de chocolate, mas de areias finas e brancas, próprias para a gente se perder por aí. E não só amamos como achamos tudo isso o máximo. Rimos das nossas façanhas.
Pois bem, Porto Alegre, como seu hino propaga:
Têm a doçura e a graça
Das águas, espelho delas,
Do Guaíba que te abraça
Peculiar é o nosso amor pelo Guaíba. Se é rio ou lago, não importa. É onde velejamos e praticamos outros esportes náuticos. Águas que nos abastecem, são palco para o pôr do sol e ilustram os cartões postais da cidade. A orla revitalizada nos transporta para o primeiro mundo.
Porém, sou de águas profundas, já que as rasas podem enganar. Não consigo ignorar as margens do Guaíba repletas de lixo. Tampouco esqueço que seu leito turvo e poluído afasta banhistas, mata peixes e outros animais. Dependendo do ângulo, é fonte de vida ou de morte.
As fotografias nos conduzem ao local que Porto Alegre poderia ser. Mergulhar, não aconselho!
Ainda assim, quando posso, passeio pela orla, a pé ou de bicicleta. Gosto de ir até a Fundação Iberê Camargo, onde sempre degusto um café. Magnífica! Quando cruzo pelo Beira-Rio, meu coração bate mais forte.
O encanto é sempre o mesmo. Minha oração também: rezo pela renovação das águas e das almas gaúchas. A cada dia, temos uma nova chance de presentear a natureza com o nosso melhor.