Acho que fui apresentada ao castelo da Rapunzel quando vim ao mundo, pois desde que eu me conheço por gente, ele faz parte da minha memória. Quer dizer, faz parte da imaginação, pois ainda não juntei todas as doletas necessárias para vê-lo na minha frente. Será delírio meu ou já tivemos um câmbio um para um no século passado?
Eu era pequena, quando minha mãe me acordou para ver o casamento de Diana e Charles na televisão. Vem ver uma verdadeira princesa – dizia ela, enquanto me servia um leite quente. Lembro que fiquei encantada com seu vestido de mangas bufantes, mas decepcionada quando soube que eles não morariam em um castelo de verdade – isto não é justo! Conforme fui crescendo, entendi que, embora tenhamos uma princesa da Disney lançada a cada dois anos, as autênticas são cada dia mais raras.
Adulta, aprendi que existem muitas mulheres que merecem usar uma coroa de ouro por toda a luta que travam. São aquelas que acordam cedo, pegam transporte lotado, trabalham um dia inteiro em locais que mal as veem, chegam em casa já de noite, prepararam comida, estudam com os filhos, arrumam a casa e só vão dormir depois que todos já estão acomodados. Quantas pessoas Reais se encaixam nessa descrição? Reais com R maiúsculo mesmo, pois são dignas de muita admiração.
Para minha filha pequena, que ainda sorri quando passa por numa construção que se parece um castelo, tenho receio de contar que são raros os contos de fada e acabar ofuscando o brilho sonhador de seus olhos. Quero que ela chegue sim ao topo da torre, não para jogar tranças para um cavaleiro, mas para ter uma vista do mundo todo que tem para conquistar.