Foi no colégio que ouvi, pela primeira vez, que a vida é feita de ciclos. A água do rio evapora, vira nuvem, condensa e vira rio de novo. A primavera leva ao verão, que leva ao outono, que leva ao inverno, que leva às flores mais uma vez. Sem neura, aprendi que os seres vivos nascem, crescem, se reproduzem e morrem. Se a natureza é feita de repetições, nada mais simples que a vida da gente também seja.
Claro que nem sempre tudo é simples, mas eu me esforço para ser uma pessoinha normal, que busca evoluir, fazer o bem aos outros e realizar os sonhos com meu próprio empenho. Comecei o ciclo de 2021 escrevendo minhas metas, detalhando as atividades no calendário para garantir um check, sorridente, em cada uma delas no final do ano. Sou boa em planejamento, trabalho com gestão de riscos, então não me perdi com os imprevistos que surgiram – os resolvi e segui. Só que tsunamis não são imprevistos. Praticamente nem são previstos. E eu fui pega por um.
Por muito pouco, não me afoguei num problema de saúde familiar. Sem perceber, fui engolida por uma onda gigantesca de médicos, exames, hospital, cirurgias. Em modo de piloto automático, fui segurando o leme sozinha, resolvendo questões práticas, tomando decisões de vida e morte, escolhendo cada palavra que poderia ser dita e mostrando um bom humor carregado de esperança por dias melhores.
Tudo fachada.
Era desesperador não saber até onde aquelas águas turbulentas me levariam. Quando haveria um respiro, se é que teria um respiro pela frente. E foi aí, perdida na minha tristeza, que esqueci daqueles ciclos estudados nos bancos escolares. Esqueci que tudo tem sua hora para começar e sua hora para acabar. De acreditar, também me esqueci.
Levou um tempo para os ventos, enfim, se acalmarem e darem lugar a uma suave marola. Demorei a entender a correta dimensão do tamanho da tempestade que enfrentei. Embora com medo, em nenhum momento pensei em me entregar, pois uma luz brilhante guiava o caminho em direção ao meu porto destino. Se eu tinha um porto à vista, eu tinha pelo o que lutar. Só agora, com toda a família segura em terra firme, fui capaz de lembrar do mais importante ciclo da vida, que aprendi em casa mesmo, quando menina, com minha vó: não existe bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe.