Andamos sempre de cabeça baixa, prestando atenção às calçadas cheias de detritos ou com defeitos que podem nos engolir, se não estivermos atentos. A postura mais comum, mesmo para quem não tem um celular como objeto hipnótico, é a cabeça inclinada para frente. Encarar quem vem em outra direção é considerado desrespeitoso, acredito. Não faço ideia de onde veio esse costume. Quase uma tradição impositiva ou um acordo tácito.
O que quero propor agora é que passemos a olhar um pouco mais para cima. Não aquele olhar arrogante de cabeça levantada e olhar abaixado, tentando intimidar o interlocutor. Menos ainda o que é voltado para uma janela no segundo ou terceiro andar à procura de dados para uma fofoca a mais. Almejo que possamos todos nós, pelo menos uma vez ao dia, olhar acima do horizonte, ao longe, descortinando o céu. Façamos de qualquer forma, olhando para o final da rua, na fresta dos prédios, na pequena janela do local onde estivermos. Feliz daquele que puder fazê-lo no mato ou na praia.
Mas o céu é azul, todo mundo sabe! Não, caríssimos, o céu é feito de tantos azuis que podemos fitá-lo milhares de vezes e há pouca possibilidade de vermos o mesmo padrão duas vezes. Qualquer modificação no ar do lugar em que estivermos fitando vai sutilmente alterar tudo. Se virarmos alguns graus mais a sul ou a norte também tingirá aquele espaço de pinceladas mais brandas ou mais feéricas. O sol ou as nuvens vão alimentar diferentemente nossos olhos trocando as tonalidades e brilhos. E estas últimas estarão compondo, com outras centenas de cinzas, a mesma aquarela variada do firmamento. Até a mão do ser humano, poluindo e emitindo partículas em suspensão, provocarão o aparecimento de tonalidades amareladas, laranjas e vermelhas em alvoreceres e ocasos diários. E a tela pode ser lavada múltiplas vezes com diferentes chuvas.
A reflexão vai além de simples palavras de estímulo e esperança. Há a necessidade de nos conectarmos com o infinito e com a natureza, mesmo que a nossa vida continue a correr desabalada carreira. Lembrando que todas as correntes, rios, riachos, ribeirões, cascatas, cachoeiras, levam ao mar. A faixa “infinita” de água. E no horizonte, os variados azuis do céu.