Em uma mesa de bar ele me contou. Não lembro como o assunto entrou em pauta.
A primeira praia de sua vida foi a de Ipanema, em Porto Alegre, no final dos anos 1960. Não lembrava, mas havia na família uma foto em um monóculo com ele sentado no raso d’água. A tal foto no monóculo se perdeu obviamente.
Também não lembrava nem onde nem quando tinha conhecido o mar.
Talvez, cogitava, em uma antiga colônia de férias promovida pelo estado durante o regime militar em meados dos anos 1970, em Torres, em uma escola transformada, como dito, em colônia de férias. Escola essa que ele nunca conseguiu localizar em seus retornos à cidade.
Para ele menino o mar era encantado. Torres, Tramandaí, Balneário Pinhal. O mar escuro, o mar marrom, o mar gelado, nada disso importava. O mar era diversão. A praia era diversão.
Não era muito de fazer castelos de areia. Algumas vezes cavava até encontrar o afloramento d’água.
Quando se sentia à milanesa, lá ia ele banhar-se. Saltar ondas e mergulhar no frio mar de cor escura.
Um pouco embriagado, exaltado, talvez emocionado, disse que não sabe quando mudou. Se foi na maturidade, depois dos quarenta, ou na velhice, agora que passou dos sessenta.
Disse que recentemente esteve em Imbé.
Reclamou que, como sempre, a areia se impregnou por tudo. Ainda mais com o uso obrigatório de protetor solar. O mar gelado o desanimou de pular ondas. Ainda ficou rancoroso com a caixa de música de alguns jovens tocando a nova sofrência.
Disse, por fim, que não é que detestasse praia. Se puder escolher, sempre vai querer passear na serra.