Tinha eu dezoito anos, a vez primeira em que admirei o mar. Mais de meio século se passou e ainda tenho na lembrança aquela emoção arrebatadora que me fez delirar e perder a noção do tempo. Até então não havia imaginado que pudesse sentir algo como a certeza do interminável. O encontro coincidente do azul do mar e do céu azul fixou-se em minha visão do mundo.
Depois disso o encontrei com frequência, seja para brincar em suas ondas, para arriscar trazer um peixe para a areia, ou desafiá-lo ao navegar em suas águas profundas. O insofismável é que aquele primeiro encontro parece ter se perpetuado. Sinto como se fossem as mesmas águas despejadas pelas ondas na areia.
Mas não são. Esgotos, resíduos industriais, lixo e fertilizantes agrícolas, entre outros agentes poluidores, causam sérios prejuízos para os ecossistemas, tais como: a contaminação de peixes e outros animais marinhos; morte de pássaros que se alimentam de peixes contaminados.
Aquela emoção vivida aos dezoito só veio me visitar novamente em sua plenitude alguns anos depois, quando viajei para a região amazônica. A mesma percepção do infinito me assolou quando avistei, pela janela da aeronave, a imensidão da floresta verdejante. O verde da mata e o azul do céu, agora cores concorrentes, com certeza se encontram em um ponto comum. Distante, porém, da minha visão.
Vários fatores, no entanto, contribuem para a precarização da floresta. Principalmente queimadas, desmatamento, garimpo ilegais, comprometendo a sobrevivência da fauna e a própria existência daquele manancial.
Hoje, ao avistar uma jovem admirando o mar, me questiono se estará vivendo aquela mesma sensação avassaladora que eu senti anos atrás, ou se tem desde cedo uma visão crítica em defesa do nosso planeta.
Ao posar a um canto, de costas para o fotógrafo, talvez queira privilegiar a imensidão do oceano. Ou, quem sabe, seja para não mostrar seu semblante preocupado e os olhos marejados.