Ele nasceu numa família com mais posses, num sítio bem maior. Entre os seis irmãos, era tratado pelo pai como alguém sem iniciativa. Não ia dar certo na vida. Durante toda a sua adolescência foi se revoltando com este tratamento. Mas ficava o estigma: como vou fazer para dar certo? Seu temperamento era voltado para filosofar sobre as coisas que via na vida, que ia se arrastando. E repetia consigo mesmo: como eu vou dar certo!
Até que, com o falecimento dos pais, a propriedade familiar foi dividida entre os irmãos e lhe coube uma gleba de três hectares. Já namorava a dona Hermínia e casaram-se. Com ajuda dela, ergueu uma casinha para morar. Tiveram quatro filhos: a mais velha era a Maria José, e se seguiram o filho Cesar, e a Maria dos Anjos, e a Conceição. Seu Oscar desde o início resolveu plantar tomates. Cultura que após fincar estacas para suportar as plantas, consistia em cuidar delas rotineiramente, replantando algumas quando necessário. E dava tempo de ir filosofando sobre a vida.
Numa região aparentemente sem movimento, há uma estrada de chão com uma velha capela feita de pedras, com uma cruz apontando para o céu. Do outro lado, uma árvore com um banco embaixo. Ela serve como indicador de ponto de ônibus. Ao fundo, uma longa planície verde onde não se vê detalhes. Parece que não tem ninguém. Mas ali se escondem muitas centenas de pequenos sitiantes, e neste meio, o seu Oscar.
A Maria José gostava de trabalhar na horta. Desde muito menina ajudava o pai. O César resolveu ir para a cidade maior – estudar, hospedado na casa de uma tia já aposentada. A Maria dos Anjos puxou ao pai, e era muito pensativa. Mas dava uma mãozinha com os tomates. E a Conceição gostava de ir à missa no domingo, para ver se chegava algum rapaz novo por ali. No sábado, seu Oscar juntava os tomates em caixas, e numa carroça levava até a estrada, para embarcar num caminhão que fazia frete até a cidadezinha perto, para a feira.
Seu Oscar deu certo. Casou, teve filhos e sustentava a família como era de praxe. Mas e toda a filosofia que elaborava? Afinal, vivia uma rotina na qual podia pensar enquanto tocava um processo repetitivo e ficava tudo na sua cabeça. Não tinha com quem conversar. Entretanto foi achando um caminho para realimentar sua filosofia. Era na capelinha nos domingos, quando o padre fazia seu sermão abordando as parábolas do evangelho. Eram sobre coisas que ele via. Aquilo dava um bom mote para a sua “pensação”. Não podia falar. Era só ouvir. Mas estava acostumado com isso. Sempre foi assim. E assim viveu seu Oscar. Dando certo, pois isso era não só cuidar das coisas práticas da vida, mas também deixar sua cabeça trabalhar com as coisas que ouvia todo domingo. Transcendendo, enfim!
Então todo domingo rezava dizendo para o pai: Pois estou dando certo meu pai!