Estranho silêncio

“Avião sem asa
Fogueira sem brasa
Sou eu assim sem você”
( Claudinho & Buchecha)

Estranho silêncio ronda meu coração… o silêncio do fundo do mar, do sentimento sem fundo, de um mergulho no ar, como pardal com asa quebrada. Não voa. Saltita desajeitado e vulnerável. Fica à mercê dos gatos vadios. Silêncio da flor de jacarandá caíndo em meu colo, enquanto, sentada na praça observo o ir e vir, entre barracas, livros, novos encantamentos e descobertas.

Estranho silêncio adoece meu coração. Caixa vazia. Ausência de poesia e da sua presença em minha noite, em meu pensamento. Só memórias, que não quero deixar ir. Tem vento. E silêncio doído da palavra mal-dita, o atropelo, o medo, a incerteza.

Silêncio de chuva fina, de desencontro, de tentativa frustrada e a madrugada sem alento, sem você.  Calmaria de ilha deserta, depois que o amor se fez, se desfez. Crochê se desmanchando, quando o ponto se perdeu. Silêncio da taça de Malbec, com seu gosto e seu sumiço.

A palavra de agora silencia o grito, atrela saudade, se desvanece em e-mails lidos, relidos. Decorados. Pegadas de outros tempos.

Neste silêncio que engole dias, noites insones,  quero ouvir você, nem que seja um segundo e dizer que nossa história não-acontecida está aqui: papel com sua assinatura, seu compromisso verbal, olhar e segredo. Ainda ouço sua voz. Ainda sinto o peso de seu olhar.

Tolo esse meu impulso de insistir em nós, desatar verbos, espalhar letras  por aí, como espalham-se as flores de jacarandá e sibipirunas sobre o vai-e-vem de corpos, rostos e histórias. Queria que você viesse, mas fiquei em silêncio. Então, melhor esquecer.

Meu medo, entenda.
Minhas incertezas, acalme.
Meu afastamento, perdoe.
Minha ternura, aceite.
São seus os meus versos.

Então, quebre você esse silêncio. Nem que seja para dizer: foi um engano! Nem que seja para dizer que a promessa está perdida: avião de asa partida, queda livre. Se assim for, silenciarei. E só ficará uma terna lembrança de um afeto, que embora breve, foi único.