Amsterdam

Amsterdam, cidade icônica. Representativa de uma época de fins da idade média, mas também dos tempos modernos. Quando ouço este nome, ecoa em mim todo um significado histórico. No séc. XV, na medida em que o comércio se desloca do Mediterrâneo para o Atlântico, a cidade experimenta crescimento vertiginoso. Com o desenvolvimento do processo colonial levado a cabo por Portugal e Espanha, a Holanda será o grande agente financiador das atividades econômicas pelo mundo. E por conta disso vai se tornar o maior centro comercial europeu. Amsterdam vai se tornar um grande armazém com produtos do oriente e ocidente. Vai financiar as aventuras portuguesas no meio do quattrocento, nas ilhas Madeiras quando se aprendeu o modo de produção escravista e o crescimento da escala de produção do açúcar a partir da cana. Bem como me lembra o meu Recife que vai se tornar centro na época das Companhias das Índias Ocidentais com Mauricio de Nassau.

Ora, a Holanda é um pequeno país situado ao nível do mar, e com mais de 30% de seu território abaixo dele. Como então explicar este fenômeno? Provavelmente devido à lógica do povo que habitou este país. Braudel chamou-os de “os tolerantes holandeses”. De modo oposto ao resto da Europa, onde a inquisição prosperou, eles acolheram a todos que pudessem contribuir para suas atividades. Cabe destaque aos judeus que fugiram das inquisições da península ibérica entre o séc. XV e XVI. Como nome proeminente deste processo, temos o filosofo Baruch Spinoza que, embora tenha nascido na Holanda, seus pais tiveram que emigrar de Portugal anos antes.

Dentro deste contexto, no início do séc. XVI Amsterdam vai sediar a primeira bolsa de valores do mundo. Segundo Braudel, mesmo nos sábados, cerca de três mil pessoas por lá passavam. Ele conta que ao seu redor se formavam grupos que trocavam ideias sobre os pregões, enquanto muitos ouviam e faziam discretamente anotações. Lá se vendia de tudo. Desde cotas para financiar a pesca de bacalhau no próximo verão, até empreitadas de navios piratas que singravam pelo Atlântico.

Deste modo vai se erguendo a cidade, na medida em que doma a natureza e constrói seus canais, apesar das diversas guerras de hegemonia com a Inglaterra, que assume a liderança da economia mundial no séc. XVIII. Embora tivesse governo e respectivas elites calvinistas, todos os credos se envolveram neste processo. De forma que vai a região voltando às suas origens como centro financeiro mundial. E sempre me resta a impressão de que as águas dos canais inspiraram com sua fluência a tolerância da Holanda!


1 comentário em “Amsterdam”

  1. Paula Dauster Pontual Carvalho Braga

    Esse homem, vulgo meu Pai, é fantástico.
    Culto, estudioso nato, sempre com olhar e cuidado para com o próximo.
    Muito orgulho.
    Textos incríveis.
    Amor e admiração..

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