Calçadas de pedrinha, corpos, sorrisos e poses, movimento de passos preguiçosos, de passeio e dança, de frevo e sombrinhas sob o sol que escalda, esbalda um amálgama de verdes e amarelos e azuis e vermelhos e espelhos líquidos onde nadam reflexos de gente. Corpo e prédio, concreto, montanhas e arcos e natureza, vívida fotografia, alegria três por quatro, pinceladas de tristeza. Bancos de namorados, bancos de mendigo, de prostituta, pobres madames e ricos saltimbancos de rua e esquina, de gente multicor tocando e gritando violões e palavras de ordem, aos quatro ventos. Expiração, respiração, corrida, contemplação, algodão doce, lágrima salgada, lago de espelho, passeio de pedalinho, fonte às vezes luminosa, monumentos em descaso, roda-gigante, orquídeas, grinalda de noiva, ipê-roxo e cipreste. Chão batido e papel de picolé. Retrato de cidade, um porto, de dia um cais iluminado, um emaranhado de sombras quando a noite cai. Riso e receio, separados por um entardecer. Feitiço, realidade e delírio. Sonho…
… ou bolha de sabão? Há muito por trás deste fotograma, desta vida instantânea, polaroide e escapista, que se apresenta esperando um clique, um lampejo, uma revelação. Atrás ou através dela, do seu contexto, pode estar outra verdade, outro pretexto. Atrás do som, da música que acorda de manhã, do ritmo do dia a dia, da cadência do sono, dos acordes, pode haver deleite, ou dor. Há muito mais por trás do que se vê, verdade, mentira branca ou patológica, dissimulação. Atrás de uma imagem, qualquer, específica, o convite, a provocação. Devaneio…
… ou Redenção? Atrás e através, ante e diante de nós, do nosso ócio e do nosso anseio, a artista de mão cheia flutua e convida, tentando furar essa vida-bolha, iridescente, essa vontade de não ir, esse receio. De blusa vermelha e calça de bordado ponto-cruz, ela é sonho, sereia, Iara, menina, mãe d’água. Hipnotizado, me entrego ao seu encanto, e vou para o parque, passear.
Que olhar sensível, Gian. Gostei muito.
Obrigado pelo comentário e pela leitura, Zu. <3