Espelho, espelho meu

Sempre gostei de ver fotos desde tenra idade. Meu divertimento favorito. Viajar de volta ao passado, lembrar de coisas importantes de nossa vida. Algumas tristezas, muitas alegrias. Algumas doenças, muitas curas. Saudades de uma época que não volta mais. Peito doído. Coração apertado. Angústia por algo que não se sabe o quê. Talvez sim, talvez não.

Fotos ou pinturas de paisagens da natureza me dão a sensação de uma liberdade sem fim. Interessantes são os retratos antigos de pessoas, familiares ou não, que guardamos em nossas memórias afetivas ou materializados numa folha de papel. Tenho saudades. Nostalgia.

Quando era criança e vinha a Porto Alegre visitar meu pai junto com meus irmãos, íamos todos passear no Parque da Redenção. Para nós, um grande acontecimento. Afinal, estávamos com o nosso pai (coisa rara) e poderíamos usufruir da imensidão e da beleza daquele parque espetacular, até hoje, com suas alamedas cheias de árvores gigantescas, das mais diversas espécies, lagos, aves e outros bichos. Muita algazarra!

Além do mais, brincávamos o dia inteiro no parquinho de diversão que lá havia, após, é claro, andarmos de bicicleta. Eu não. Somente os meus irmãos. Para mim, bastava um bom triciclo. Ainda não sabia pedalar com duas rodas. Aliás, apesar de gostar, nunca foi o meu forte. Sempre gostei mais de correr livre, leve e solta. Não andava, pulava. Não falava, gritava. Gritos de alegria. Era muito empolgada com tudo e com todos. Talvez ainda seja. Não sei. Perdi um pouco dessa espontaneidade infantil. Coisas da maturidade.

Sorrir, rir e gargalhar são rotinas na vida de uma criança. Jogar pedrinhas no lago e contar quantos círculos cada pedra faz na água é um divertimento incansável. Olhar os patinhos nadando, andar de pedalinho no parque, de roda gigante, comer algodão doce depois da pipoca salgada e do cachorro-quente da Redenção e, ainda por cima, acompanhado de uma coca-cola, bem gelada, naquele tempo, era a maior das alegrias.

Para finalizar o passeio, uma boa churrascaria na Ramiro Barcelos quase com a Oswaldo Aranha, era o máximo dos máximos! Quantas lembranças boas de um alvoroço, de uma vida que pulsava, ansiosa por crescer, realizar sonhos. O burburinho da criançada, as brincadeiras entre os irmãos, o cantar dos pássaros, o sorriso das pessoas, o azul anil do céu. Tudo isso me faz lembrar do tempo de uma alegria ancorada num porto, mas não um porto qualquer, mas sim um porto muito, muito alegre: Porto Alegre!


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