Faz tempo que observo a mudança nos ritmos da casa. Parece que lá fora eles permanecem iguais: os estalos do telhado, o balanço dos galhos das árvores, o movimento da fumaça da chaminé. Aqui dentro, a pausa, o silêncio. Por muitos anos, estive em atividade e fiz muito barulho. Ninguém mais se aproxima para costurar uma peça nova, remendar um rasgo, ajustar uma bainha, substituir zíperes, reparar uma peça usada. Sinto falta da bisavó, da avó, das filhas e de suas crianças. Tantas mulheres estiveram aqui, tantos conhecimentos transmitidos. Escutei muitas histórias de resiliência e afeto, enquanto vestidos de noiva e roupas de festa eram costurados. Presenciei trocas de olhares, sorrisos e abraços. Escutei suspiros silenciosos de quem deixava para trás uma parte de si em cada ponto. A agulha subia e descia, como o pulsar de um coração, conectando sonhos, esperanças e dores em cada tecido que passava por mim. Agora, sou apenas uma testemunha silenciosa do tempo que se foi, guardando em minhas engrenagens as memórias das mãos que me movimentaram. Continuo aqui, à espera de que alguém volte a me tocar e, quem sabe, costure mais uma história que mereça ser lembrada.
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