Aquela região do Centro Histórico onde se encontra o Forte Apache sempre me evoca memórias de infância e adolescência. A Biblioteca Pública, o local onde hoje está a Assembleia Legislativa, o Teatro São Pedro e até o edifício do Instituto Cultural.
Lembro que, quando passava pelo Forte Apache, meu pai contava que o prédio já tinha abrigado a sede do governo e que aquelas aberturas amplas e arredondadas eram as antigas cocheiras. Criança acostumada com os automóveis, ficava tentando imaginar como seria aquela época em que as conduções dos representantes do governo, que eu conhecia como figuras arrogantes e altivas, se limitavam a veículos puxados por cavalos.
A Biblioteca era local de estudo para mim e colegas; os tempos eram de consultas a enciclopédias. Sempre era um pouco intimidante entrar naquela sala e submeter a lista de livros à bibliotecária, que orientava a busca. Depois, já mais soltos, era preciso pesquisar nos escaninhos a localização das obras (uma ficha datilografada para cada livro), anotar os códigos e, enfim, buscar os volumes nas prateleiras. Sentados à mesa, folheando as páginas e anotando no caderno os novos conhecimentos, ainda achávamos tempo para conversas e risos, sempre tentando manter o volume baixo, para evitar advertências.
Ali onde hoje está a Assembleia havia o auditório Araújo Viana, com sua concha acústica e vários bancos para o público. Num deles me acomodei uma noite para ouvir a Abertura 1812 de Tchaikovsky. Nada sabia sobre a obra, e possivelmente me inquietei durante a longa execução da orquestra, mas lembro que os estouros dos canhões, ao final, me fizeram ficar quietinha no banco.
No Cultural, fiz alguns semestres de Inglês, preparando o exame vestibular, que naquele ano adotaria o novo modelo: de provas gerais para todos os cursos. Exceto para a faculdade de Ciências Econômicas, que teria prova à parte. Aprovada no curso de Letras, ainda fiz a prova na Economia. Nesta fiquei em segundo lugar, surpresa e orgulhosa. Mais tarde, na vida profissional, descobri que aquela glória do passado era completamente irrelevante.
E o Theatro São Pedro, além de lembrar as vezes em que cantei lá, com grupos adolescentes, foi palco (é lugar comum, mas não neste caso, onde a expressão é literal) de meu primeiro beijo. Sim, no palco! Mas devo confessar que as cortinas ainda estavam fechadas, nada de muito exibicionismo para um acontecimento tão íntimo e marcante.
Na época, o bairro era chamado simplesmente de Centro. Hoje é o bairro Centro Histórico. Eu concordo. Para mim, é parte importante de meu histórico de vida.