Conquista
Jane Maria Ulbrich
Ouvir seu nome como vencedor o comoveu e o envolveu numa sensação de júbilo. Que orgulho. Emoção maravilhosa. Tal qual jogador de futebol, sentiu a necessidade de retirar a camisa e atirá-la à plateia. Não resistiu. Comemorava o prêmio recebido. Sentiu-se recompensado pela dedicação, empenho, horas consumidas a estudar, ler, reler, treinar, repetir exaustivamente até julgar perfeito. Transcorreram dias, semanas, meses, até este momento especial.
Na manhã seguinte acordou com certa tristeza por não ter dividido o momento com seus amigos e familiares, por não os ter convidado para a estreia para que pudessem conhecer sua obra e festejar a conquista. Teria sido especial partilhar o sucesso. Decidiu marcar uma festa. Não iria perder a oportunidade de mostrar a eles seu trabalho e justificar a constante ausência. Certamente, orgulhosos, entenderiam.
Um turbilhão de assuntos e deveres acumulados tomaram o tempo finito e o afastando cada vez mais do seu propósito.
Ao final do mês pensou que era o máximo que poderia protelar, iniciou os preparativos para a festa que julgava digna de sua vitória. Haveria de ser muito especial. Cada detalhe planejado e cada escolha tomaram-lhe um tempo imenso até a conclusão.
Finalmente restava a entrega de seus nomes e endereços para os convites, alguns telefonemas e confraternizar.
O que julgou tarefa fácil e tranquila causou desconforto progressivamente intenso. Um número grande de seus familiares mais próximos já havia falecido, ou mudaram-se e ele não tinha sequer endereço ou telefone. Não havia a quem consultar, afastados nas constantes ausências e desculpas.
Estava só. Poderia festejar com poucos conhecidos ou estranhos, interessados em alguns momentos de diversão.
Valeu a pena. Foi o único consolo que teimava pensar enquanto definhava em sua solidão.
Trágica! A história é trágica bradava o diretor! Enquanto o ator gargalhava, sem entender bem o que fazer.