Rubem Penz em foto de Alexandre Eckert

Verticonte

Rubem Penz

Grandes cidades como Nova Iorque, São Paulo e, em alguma medida, a nossa Porto Alegre também, possuem uma linha alternativa ao horizonte. Vamos chamá-la, grosso modo, de verticonte – e o leitor, espertinho que é, já imagina a diferença entre as duas.

Para melhor compreender a linha do verticonte basta olhar para cima quando estiver em uma grande avenida. Melhor se deitado, ainda que deitar nas calçadas urbanas não seja muito fácil nem higiênico. O fato é que a diferença de perspectiva transforma as impressões opressivas das paredes de concreto e vidro em um plano futurístico e aberto – o tal verticonte a descortinar pontos de fuga.

Há maneiras mais e menos interessantes de mirar essa linha. As melhores são em dias e noites sem nuvens. Por quê? É quando lá estará, no extremo do verticonte, o azul profundo e o manto estrelado. No entardecer também poderemos admirar as luzes que escapam pelas janelas, iluminando o caminho do olhar. As piores experiências acontecerão durante a chuva: ninguém merece água nos olhos.

Porém, a grande diferença entre olhar o horizonte e o verticonte acontece quando subimos em um dos prédios mais altos e olhamos para baixo. O horizonte, por ser sempre um oposto distante, não deixa que se olhe a partir de si. No verticonte, conseguimos simular essa perspectiva. Mas, cuidado! Dá vertigem.


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