Aquarela
Dora Almeida
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Vinícius e Toquinho
– Vamos lá guri! Hora de levantar! A profe já está esperando na escola! Hoje é dia de fazer um desenho lindo, um sol bonito pintado de amarelo, quem sabe um menino num castelo que nem o Toquinho canta, o que achas? Escuta a música, vamos cantar juntos?
O menino esfrega os olhos, enfia o rostinho no travesseiro, depois senta e sorri.
– Pai, hoje eu não fiz xixi na cama, viu?
– Estás um mocinho, hein? Vamos nos preparar para sair?
E começa o ritual diário, banho, que roupa vamos usar, a calça azul ou a preta, a camiseta amarela ou a vermelha, será que faz frio lá fora? Café, Nescau, pão com manteiga, um ovo quente. Pronto! Os dois fazem juntos sua primeira refeição.
– Hoje é dia do brinquedo, pai.
– Grande coisa, todo dia é dia de brinquedo – Marcio ri.
– Não, pai, é dia da gente levar um brinquedo nosso. Quero levar o Fofinho, o urso que ganhei da vó. Ela falou que tu brincavas com ele quando eras pequeno, que nem eu.
Marcio vai procurar o brinquedo. Custa um pouco a encontrá-lo no meio da bagunça do quarto do filho. Pega o urso, desbotado pelo tempo, lembra de quando seu pai o trouxe numa viagem que fizera, e de como gostara do presente. Pena que o pai foi embora tão cedo.
– Pronto, o urso está aqui e o pai também – olha para o menino, feliz com aquele urso velho. – Vamos? – coloca o guri na garupa e seguem cantando juntos:
Um menino caminha e caminhando chega no muro
E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está.