Quando eu penso no amor, idealizo um mundo de felicidade que, obviamente, só existe nos meus pensamentos. Eu sei. Mas, por mim, tudo bem. Gosto de ter um ideal a perseguir. Gosto de acreditar que existe o “felizes para sempre”. O que não consigo conceber é a perversão desse sentimento. Pessoas que, em nome de um pseudo amor, trazem sofrimento para o outro.
Essa é a história da Nilza, mas não só: das Ângelas, das Cleusas, das Marias, das Eduardas, das Anas, dentre muitas outras. A violência contra a mulher assume várias formas como a física, a psicológica, a sexual, a patrimonial e a moral. Baseia-se num sentimento que é qualquer coisa, menos amor. Foi na esquina das ruas Vasco Alves e Fernando Machado que a Nilza viveu seu pesadelo. O marido construiu um castelo medieval como residência da família e também como prisão de Nilza, que sequer podia se aproximar das janelas.
A história da prisioneira do Castelinho do Alto da Bronze extrapola as paredes do próprio castelo e os limites da vida familiar. O cárcere privado de esposas, infelizmente, não é algo incomum. A Lei nº 11.106/2005, conhecida como Lei Maria da Penha – outra vítima de violência doméstica que deu nome à lei – qualificou o crime de cárcere privado quando praticado por cônjuge ou companheiro. Mesmo com pena mais severa, ouvimos casos não muito diferentes desse.
O abuso da força física e do poder econômico, aliado a uma sociedade que é omissa às agressões no interior da família e que avilta a figura da vítima, são alguns dos fatores que corroboram para a manutenção do status quo.
O que deveria ser um conto de fadas se torna uma lenda urbana. Nilza Linck, por sua força em se libertar do agressor, por reconstruir a sua vida, por perseguir o seu final feliz: uma salva de palmas. São às nossas Rapunzeis da vida real, autoras de suas próprias histórias, que eu devoto o verdadeiro senso de felicidade.