Sempre ouvi dizer que a vida imita a arte. Muitas vezes, inclusive, repeti essa afirmativa sem refletir de forma mais minuciosa sobre o teor da mensagem. Mas, se a vida imita a arte, ela necessariamente deve ser livre, criativa, imprevisível, emocionante e transformadora. Composta de cor, movimento, sentimento, beleza e esperança.
De fato, a vida de cada um de nós, de um jeito ou de outro, oferece um pouco ou muito de cada coisa e de tudo isso.
Para uns, a vida é uma pintura abstrata; para outros, realista ou até surrealista. O equívoco é valorizá-la apenas na condição de espetáculo de sucesso.
Alguns contestam a proximidade entre a vida e a arte sob a alegação de que nem sempre a vida carrega em si a exuberância do belo, mas, a meu ver, isso não procede, porque a arte também se revela no drama e na tragédia.
Confesso que essa epifania do poeta só virou questão no momento em que me deparei com a figura de um mímico. Ali, a vida não me pareceu imitar a arte, ela se revelou a própria arte em si.
Acompanhem o raciocínio: qual a função do mímico?
Expressar emoções, ideias, anseios, impressões e expectativas, utilizando gestos, expressões, poses e outras sutilezas para promover revelações, insights e as mais variadas sensações. Sempre de forma intensa, direta e curiosa, sem o uso da palavra ou qualquer outro subterfúgio mais explícito.
A vida não cabe perfeitamente nesse escopo?
Não seria ela essa magia que acontece em tudo o que se sente? A vibração pulsante, a vivência que brota entre olhares e trocas no encontro com o outro?
Não nos esqueçamos de que a vida, antes de tudo, é o vazio carente que habita o nosso interior. E, em última instância, o silencio que se preenche de sentido, interpretação e desejo.
Vendo a atuação do mímico, sua ironia, magia, graça, leveza e mistério, cheguei à conclusão de que não há imitação, a vida é a própria arte.
Aceita uma dica?
Atente aos sinais. Entre na brincadeira e permita-se achar graça das caras e bocas que a vida faz.