Final de uma linda tarde quente de verão. Minha grande amiga e eu apreciávamos da janela do oitavo andar de seu apartamento a bela paisagem da Praia de Icaraí, cuja vista era a Cidade Maravilhosa, do outro lado da baía de Guanabara.
Éramos adolescentes, tínhamos 16 anos, na flor da idade, cheias de sonhos e muita vontade de viver e amar. Conversámos animadamente sobre rapazes, paqueras, namoros e festas. Fazíamos planos para o futuro. Recém havíamos terminado o ensino médio. Passamos direto, sem precisar fazer as provas finais. Como sempre. Alguns colegas nos consideravam CDF. Verdade. Gostávamos de estudar, tirar boas notas a fim de podermos curtir os três meses das férias de verão, livres, leves e soltas.
Porém, nem tudo que reluzia era ouro para nós. Havia uma barreira a ser vencida…estávamos sem namorados! Situação angustiante e grave. Como iríamos passear, dançar, ir ao cinema ou ir à praia sozinhas? Com quem dividiríamos os anseios e os desejos de um vulcão ardendo em chamas a procura de um amor? Não podíamos ficar paradas. Tínhamos que agir. Resolvemos sair do apartamento, ir à luta. E fomos…sentamos num banquinho a beira da praia, de costas para o mar, de frente para a avenida. Carros para lá, carros para cá, devagarinho, buzinas, abanos, cortejos e beijinhos de longe. Gente feia. Gente bonita. Até que um carro parou. Saíram dois rapazes. O primeiro, o motorista, lindo, meio ruivo, meio louro, cabelos longos e cacheados, tipo surfista, veio ao nosso encontro e olhou para mim de cima abaixo. Passei a frente de minha amiga e disse: esse é meu! Ela me deixou passar e se contentou com o outro, moreno, bonitinho, arrumadinho. Fomos nos aproximando.
De repente, olhei fixamente para o rapaz dos cachos dourados, ele olhou para mim e pensei: será um sonho? Seus olhos cor de mel com bordas esverdeadas me fitaram. Fiquei hipnotizada. Estávamos em êxtase. Devorávamos um ao outro só pelo olhar.
Quando ele começou a falar com seu sotaque gaúcho, daí enlouqueci. Eu também era!
Meu coração começou a bater mais forte. Não enxergava, nem escutava mais ninguém, apenas sua voz sedutora. Na minha cabeça ouvia as badaladas dos sinos e, ao mesmo tempo, uma sonata de piano com seus movimentos rápidos, fortes e às vezes lentos, acompanhando as batidas de meu coração ao ritmo ofegante do meu respirar.
Não via, nem ouvia mais nada, somente ele e a melodia do amor que brotava entre nós. Foi assim que tudo começou. Aquele verão quente foi inesquecível e até hoje seu calor permanece, quarenta e nove anos depois.