Tubo

“Aceite o desafio e provoque um desempate / Desarme a armadilha e desmonte o disfarce / Se afaste do abismo / Faça do bom senso a nova ordem”*

O poeta é um otimista quando fala em bom senso e nova ordem.

“Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar”

A TV é um tubo, já dizia Thomas Pynchon. Um aquário no qual observamos o mundo.

“Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar”

Por ela, em um livro dos anos 1980 éramos lembrados da violência de algumas forças policiais nos anos 1960.

“Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar”

Por ela tínhamos notícias da guerra. No Ocidente se via muito a guerra no Extremo Oriente. Muito pouco das guerras na África. Ou das guerras internas contra os dissidentes. A guerra já estava ali. A guerra não foi embora.

“Pense só um pouco / Não há nada de novo / Você vive insatisfeito / E não confia em ninguém / E não acredita em nada / E agora é só cansaço / E falta de vontade / Mas faça do bom senso a nova ordem”

O poeta é um otimista quando fala em bom senso e nova ordem.

“Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar”

E a guerra está aí hoje. Quando um decadente império invade seu vizinho. E seu vizinho só resiste por força de armas fornecidas por aquele outro império, “terra da liberdade, lar dos bravos”. E os homens de ambos os lados se tornam bucha de canhão.

E a guerra está aí hoje. E um pais de território pequeno escraviza, oprime e destrói seus vizinhos, também de territórios pequenos, com a força das armas fornecidas por aquele outro império, “terra da liberdade, lar dos bravos”.

“Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar / Não deixe a guerra começar”

Peixes que se devoram. Me enojo. Desligo o aquário.

* Plantas embaixo do aquário, da Legião Urbana.