Quando bebê, os pezinhos mais pareciam aquelas bisnaguinhas de pão doce. Não à toa, todos curtiam apertar, morder ou fazer cosquinha.
Nos banhos, as cócegas sempre marcavam presença, principalmente quando as hastes flexíveis entravam em cena, por entre os dedos diminutos.
O passar do tempo brindou-os com inúmeras meias e calçados. Calor, frio ou chuva, sempre estavam caprichosamente abrigados.
Por vezes, eram molestados em parques, campinhos de futebol e até nos pedais da bicicleta. Arranhados, dedos com um tampo arrancado na marra, cobreiro ou
micose na unha. Mas para tudo tinha um jeito.
As bolotinhas cresceram protegidas das mais diversas formas : Conga (com e sem biqueira), Bamba, botas Ortopé ou Sete Léguas, Alpargatas, Kichute, galocha, sapato com bico fino ou reto, sapatênis etc.
Nada impedia seus caminhos aventurosos com disposição e sempre alertas. Foram conduzidos às escolas, trabalhos, universidades, velórios, hospitais, reuniões dançantes, Beira-Rio, motéis, férias e tantos lugares inesquecíveis.
De quando em vez, improvável imaginar em quais destinos os levariam.
O chão de fábrica permitia ter sonhos de ir cada vez mais longe, e assim aconteceu.
Começando no Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina, não demorou para caminharem em outras calçadas mais distantes. Nova York, Washington, Paris, Genebra, Munique, Berlin, Viena, Praga, Amsterdam e Londres.
Em algumas ocasiões eles voltavam a se parecer com aquelas bolotas, agora maiores. Afinal, a fadiga já os acompanhava há muito, e o inchaço como consequência.
Atualmente, os desejos por perambular por este mundão persevera, assim como o cuidado com os pés exige mais atenção. E não só com eles, com tudo na real.
Caminhadas mais breves, trotes leves e esportes escassos. Uma acanhada lomba, já faz reconsiderar o trajeto.
Os pezinhos já não chamam tanta atenção mas, os cuidados seguem acentuados. As comodidades e facilidades integram-se no cotidiano da proteção e zelo.
Por sorte, desde a época em que ensaiava os primeiros passos, a grama também cuidou bem deles, acolheu-os com brandura e frescor no jardim de casa, mesmo que às vezes, sendo afofada pelos pequenos pés, a viçosa relva ficasse apreensiva com aquela melindrosa camisetinha.
– Será que eles irão voar e me deixar aqui sozinha ?