O grupo de amigos, cunhado ao longo de vários anos através das estreitas relações profissionais, tinha uma mania afetiva da qual não renunciavam.
Sob a batuta de Rodrigo, que sempre ajeitava a agenda de todos, partiam anualmente, para o período de férias no sul da Ilha da Magia, praia do Matadeiro.
Local privilegiado pela exuberante natureza, tendo a rusticidade como principal característica, abrigava a turma num modesto chalé de madeira sem pintura, no alto de um dos morros cobertos pela mata Atlântica, lá no final da enseada.
Responsabilidades designadas, cada integrante dedicava máximo empenho em realizar com êxito, sua atribuição para a trip acontecer com perfeição. Suprimentos, equipamentos e o violão não poderiam faltar.
O Passat do Leandro e o Chevette da Ana sempre eram revisados, sob a próxima orientação de Rodrigo.
Com acesso limitado a bicicleta ou a barco, a aventura a pé tinha início na chegada, com a distribuição das cargas entre todos. Paula e Fê sempre com itens mais leves.
Assim, davam início ao momento mais aguardado do ano. Tudo era ótimo.
Num dia daqueles, Leandro que, sem dúvida, era o melhor cozinheiro da patota, enveredou na cozinha para elaborar um bolo especial, sabor chocolate e salientou : É tudo comigo!
Esperto, já tinha mocozado na mochila, uma caixinha de mistura de bolo Santista.
Após o prolongado processo, levou a iguaria até uma mesinha desengonçada na área externa, para esfriar sob a intensa luz que a vistosa lua cheia os brindava. Em seguida, retornou para dar início a lida do jantar, enquanto a parceria seguia no violão a cantarolar Doors, Zeppelin, Beatles e Pink Floyd.
De política a amenidades profissionais e pessoais, a prosa animou a deliciosa refeição, regada com muitas long necks. Até que, do nada, Ana lembrou do tal bolo.
Paula tomou a iniciativa e buscou o pospasto, enquanto os demais abriam espaço no centro da mesa.
Saboreavam enaltecidos o resultado final da dedicação de Leandro. E ali, em volta da mesa, retomaram o violão e as canções prediletas até que os processos digestórios agregaram a enigmática sobremesa …
Gargalhadas desmedidas, entusiasmos eufóricos, diálogos intelectuais e prolongados instantes de meditação tomaram conta de todos.
Repentinamente, Paula, Ana e Leandro fixaram olhar na luminosidade do grande lustre que pairava sobre a mesa. Instantes depois, Fê e Rodrigo uniram-se aos amigos tentando discernir algum significado naquela mágica e arredondada luz.
Nenhum deles soube precisar quanto tempo permaneceram na fixação dos olhos, até que Paula manifestou-se : Alguém pode me dizer como é que a lua cheia entrou aqui ?
Seguiu-se mais um lapso de contemplação e finalmente Rodrigo balbuciou : Gente, não vamos fazer disto um bicho de sete cabeças. Afinal, com tanto mosquito entrando, porque ela não poderia entrar também ? Fê sussurrou : Somos diversos, lembrem-se.