Guardar a chuva?

Carregando nas trança responsa e/ herança de minhas ancestrais/ Que às vezes, sim, é ponto de força/E várias vezes é pesado demais.
Brumas leves para peitos pesados – Naiá Curumim
Coleção #poesiaviva

 

Se equilibra com desenvoltura ao pisar as pedras irregulares do Centro Histórico. Passo firme apesar da chuva que as torna mais escorregadias. Pedras talhadas pelos ancestrais – vivos na sua pele, andar e poemas.

O corpo esguio e altivo se enquadra no rosto desenhado por uma leveza que pode – quando tudo está pesado demais – virar ventania. Assim é sua escrita – cujas páginas soltas flutuam entre brumas e peitos que rompem com a esquina mal dita para tomar toda a rua.

Ao atravessá-la deixa atrás de si um rastro luminoso, feixes de coragens forjadas como as rochas sob seus pés.

A chuva vem e ela deixa que o céu a encharque e leve até o mar seus desejos e choros. Ela, a que se traveste e transgride, sente escorrer as línguas e letras pelo corpo nu da cidade.

Ela, cria da favela, que fala o pajubá como o seu povo fala.

Ela, que tem fome e sede de Palmares,

Não quer,

Não precisa guardar a chuva.

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