A história de Adelaide

Quem nos abriu a porta da mansão, naquela noite, foi uma mulher jovem, pele escura, com um sorriso lindo e o olhar brilhando: Adelaide. Conduzida pelo meu namorado, fui ser apresentada aos futuros sogros. Ela era a serviçal da casa. Sua fisionomia demonstrava imenso prazer em me conhecer.

Logo ficamos amigas. Gostava de falar de suas origens e eu de escutá-la. Começou contando-me que seu bisavô tinha sido escravo na estância onde nascera e que lá tinha sido criada. Sua mãe era a cozinheira de quem tinha aprendido tudo o que sabia. Se a deixassem, emendaria uma história na outra.

Aos poucos, com o passar dos anos, pude conhecê-la bem. Tinha uma verdadeira paixão pelas crianças e, em uma família com quatro filhos casados, eram muitos os netos, a quem enchia de mimos.

Humilde ao extremo deixava, os chinelos na porta de entrada da cozinha e andava descalça pela casa. Creio que eram resquícios de sua educação na infância. Tímida, sempre cobria a boca quando ria. Pouco saía de casa, sua distração era a janela da sala da frente, de onde observava a vida dos transeuntes e vizinhos. Não sei o que a prendia, talvez o medo do desconhecido.

A velhice chegou trazendo suas consequências. Nem a doença fez com que ela perturbasse a vida familiar. Como simplesmente viveu, Adelaide dormiu para sempre.

***

Por que Adelaide? Porque quando entrei naquela galeria de fotos e bati com os olhos na baiana de olhos e sorriso meigos, eu enxerguei uma mulher de pele escura, vestida com uma roupa simples tendo um avental por cima. De pés descalços, carregava uma bandeja. Servia o jantar dos patrões.

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