Rafal Olbinski por Soraia Schmidt

Utopia

Soraia Schmidt

New York. Muitas pessoas são apaixonadas, mas sempre ouvi a versão de turistas, do cinema e da TV. Cidade com grandes espetáculos culturais, cosmopolita, das mil possibilidades. Instigante, interessante e cheia de contrastes.

Compor-se de indivíduos do mundo inteiro, certamente enriquece e a torna cheia de viva. Ampliam fronteiras. Poderiam ajudar as pessoas a serem mais humanas. Desde que se soubesse ultrapassá-las. Mesclá-las, com humildade e respeito, numa troca recíproca. Coisas difíceis na cultura “status quo” dos norte-americanos, onde há um forte padrão pré-definido de pertencimento social, de sucesso e felicidade. Competir e vencer é o lema, e quem não se enquadrar, está fora. É perdedor. Não ter, significa não ser.

A diversidade de New York, certamente criou oásis, e muitos a procuram, justamente para fugir do lugar comum, encontrando muitos outros jeitos de ser. Afinal, a alma não se deixa aprisionar nem moldar. É etérea, mutante, livre. Mas quero falar de fronteiras. Que separam, barram, intimidam e excluem.

O “sonho americano” é vendido para o mundo inteiro que o venera e idolatra. Terra das oportunidades. Cidade símbolo da civilização moderna, das possibilidades, prosperidade, riqueza, luxo e liberdade. Receita da felicidade. Muitos morrem tentando chegar nas alturas desta ilusão prometida. Mas, envolta em brumas, esconde paradoxos e antíteses. Há pobreza, desigualdade, injustiça social, intolerância racial, cultural e religiosa. Violência.

A cultura estadunidense é egocêntrica, individualista. Consomem a natureza para gerir seu bem estar e sua riqueza a despeito do resto do mundo. Os outros são sequer vistos ou lembrados. Ser americano soa como ser “melhor” – serão os meus ouvidos doutrinados? Não se duvida da competência, inteligência, pioneirismo, empreendedorismo, da ciência, literatura, indústria e de tudo o que se faz com excelência. Questiona-se o modo. A soberba, a prepotência, a arrogância, o imperialismo desrespeitoso, bélico, devastador. Não há fronteiras de saída, só de entrada.

O ser humano não pode ser feliz sem ser respeitado em sua diversidade; de raça, etnia, crença, religião, cultura e sonhos. Ninguém cabe inteiro numa receita padrão de felicidade, ainda mais ditada pelo raso do capitalismo. Ao contrário, gera frustração.

Nenhuma sociedade moderna deveria ser voraz às custas da existência de outras.

Grande Utopia!

Por isto, New York está como símbolo, envolta em fumaça. Queimados sonhos, a natureza e a fantasia do glamour deste tipo selvagem do viver a vida na terra, consumindo-a.


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