Rafal Olbinski por Alexandre Wahl Hennigen

A grande maçã

Alexandre Wahl Hennigen

If I can make it there

I’ll make it anywhere

It’s up to you

New York, New York

– Fred Ebb

Eu não queria vir para Nova York, meus pais me obrigaram. O tio Saul conseguiu os passaportes e algum dinheiro para a viagem. Foram semanas dentro de um cargueiro com minha mãe e meu irmão. O pai viria depois, mas os nazistas não o deixaram sair da Polônia. Lembro-me apenas da sua barba comprida encostando no meu rosto quando lia trechos da Torá. Minha mãe casou-se com um gentil. Meu irmão e eu hoje cuidamos do restaurante que deixaram.

Depois da morte da mãe, não restava muito em Guadalajara para que eu ficasse. Eram tempos difíceis: o terremoto foi a última gota para destruir nossa já frágil economia. Era fugir ou passar fome. Fui de carona até El Paso e tentei atravessar a fronteira. Não deu. Meses depois fui até Tijuana. Já tinha juntado dinheiro suficiente para uma quadrilha me levar para o outro lado num bagageiro de ônibus. Em San Diego trabalhei como pedreiro, sempre com medo. Conheci minha esposa cinco anos depois. Como ela morava aqui, vim para Nova York. Espero que nossos filhos tenham mais sorte do que eu.

Quando era criança eu já sabia que queria pintar. Mas que chance na arte pode ter uma jovem que vive no interior do Alabama? Meus pais nunca compreenderam meu sonho, mas apoiaram. O dia mais feliz da minha vida foi quando fiz dezoito anos e eles disseram que podiam pagar um semestre na Universidade de Nova York. Há dois anos estudo Artes Visuais durante o dia. À noite atendo meus colegas de classe em um bar do campus. O dinheiro é apertado. Meu sonho é abrir minha própria galeria.

Nasci em Nova York há 30 anos e nunca gostei daqui. É uma cidade selvagem, mais do que o interior do Congo, onde vivi nos últimos dois anos. Trabalho para uma ONG especializada em desenvolver soluções de energia sustentável para países do terceiro mundo. Essa foi minha deixa para ir embora dessa terra de aparências e impessoalidade. Entre as missões no exterior, venho visitar família e amigos que não entendem por que não quero viver aqui. “Querido, não existe nenhuma cidade no mundo com mais oportunidades do que Nova York”, fala minha mãe quando me leva ao aeroporto. Acho que por isso fui embora: muitas opções me deixam ansioso.

Se passam do nosso lado na rua, nem imaginamos suas histórias.


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