Rita Rheingantz em foto de Gutemberg Ostemberg

O vento é largo

Rita Rheingantz 

Outono em transe. Céu azul-turquesa. Estrada ensolarada e cheia de expectativas. Rumo ao sonho que já perseguia-me há algumas décadas. Em duas horas de viagem chegamos no festival, habitado por todas as idades e tribos. Trânsito, filas e esperas.
Prontamente fomos conversar sobre os maiores detalhes do voo – os pormenores já haviam sido acertados.
Entre as opções de um passeio de balão turístico, que leva doze passageiros, ou a possibilidade de voar num balão da competição. Com duas pessoas, além do balonista, optamos obviamente pelo plano B.
Tínhamos apenas um dia livre para o voo, tudo dependia do vento. Ao amanhecer, normalmente venta menos e o cenário no céu, num ângulo de cento e oitenta graus, enriquece muito o passeio. O voo no pôr do sol, em condições normais, é espetacular. E agora?
Dormimos cedo, aguardando os bons ventos. Despertamos antes das cinco da manhã, esperando nos buscarem no hotel para iniciarmos o voo, às seis e meia.
Chegando no local, galeras e horizonte super coloridos, com muitos balões em todas as fases, do chão ao céu. Eu e a minha amiga tínhamos uma mistura de euforia com expectativa. Da minha parte, deliciosas doses de adrenalina. Não lembro quanto tempo durou até sairmos do chão – minha viagem já tinha começado ali.
Luciano começou a organizar tudo e chegou a hora do embarque. A gôndola era como uma grande cesta de piquenique, media aproximadamente um metro de altura com muito pouco espaço para os três. No momento que perdemos o chão, fui invadida por novas emoções. Uma sensação lúdica, mas ao mesmo tempo pelo lado de dentro de um filme: em alguns instantes, num sonho, em outros, num desenho animado.
Abaixei a cabeça num reflexo “The Flash”, para não bater num galho enorme. Começamos a subir, subir, subir.
Tinha vontade de rir e chorar, de chorar e de rir. Realizar sonhos é assim.
Nunca tinha visto tão de perto o mundo tão longe a céu aberto. Pouco conversamos no trajeto, estávamos as duas em êxtase, e voando.
Deveríamos ter pousado ali, apontou o Luciano, mas vamos aterrissar na praia. Nesse momento fiquei um pouco apreensiva ao ver o espaço mínimo de areia que tínhamos. O pouso foi extremamente preciso. Descer na praia refinou ainda mais minhas emoções. Até sabermos que, como não tínhamos descido no lugar indicado, Luciano tinha perdido a prova.
Voamos mais que o dobro do tempo.
Honestamente, achei melhor assim.


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