Tereza
Soraia Schmidt
Garota padrão ouro. Do colégio, do bairro, da cidade e, para mim, do mundo.
Desde a tenra puberdade a promessa aflorava com vigor. A menina alta e magra foi estrogenizando. Gordurinhas macias foram preenchendo a magreza, distribuindo-se e aveludando contornos e curvas cada vez mais acentuadas. Formas arredondadas, equilibradas nas alturas de longelíneas pernas. Seu andar era felino. A cada passo parecia nem pisar, flutuava sobre o chão. Leve, manso; rebolado. Firme e seguro como uma leoa, que sabe que tem um reino. E lá estávamos nós, todos os meninos do bairro, seus súditos. Embasbacados diante de tanta beleza e sedução. Olhares em súplica. De quem olha uma deusa. Éramos só garotos, ainda atrasados na fase corpórea da puberdade, mas avançadíssimos e aguçados no intuitivo e genuíno desejo do macho diante da fêmea master. Era caça. Só não sabíamos que nós éramos as presas. Ela, o predador, Tereza.
Fui vendo a cena em pequenos recortes. Primeiro o cabelo liso caindo suavemente sobre os ombros, após dorso, nu. Pescoço levemente inclinado em pose de rainha. O braço alongava-se como asa de ave cheia de plumas, repousando suntuosamente sob o ponto mais alto, na curva do quadril, deixando a cintura fina como o ponto distante, lá embaixo. Como se fosse a beira da praia avistada do topo do morro. O cigarro entre dedos, revelava a intimidade, cumplicidade, partilha. A fumaça tênue mostrava ser de tragadas relaxadas como se fossem suspiros de prazer. Era a aura final. Só podia ser assim, o momento após. Os dois parados, compartilhados. Era certeza, eles tinham se acontecido, a Tereza e o professor Gato.
Esse foi meu primeiro aprendizado sobre sexo: a magia do momento pós. Quando palavras não são necessárias, pois tudo já foi dito. Quando o mundo para. Só existe um e o outro, a paz reina e a vida parece ser plena. Está inteira naquele espaço-tempo.
Descobri sua força e poder, ali, naquele espiar do buraco da fechadura.
Rememoro agora com saudades, e clamo:
– Tereza…