Timoneiro

Quanto mais eu remo, mais eu rezo

Paulinho da Viola

Sabe o jogo de salão dança das cadeiras? Se não lembra, é aquele em que, ao som da música, pessoas caminham em volta delas com um assento a menos em cada rodada. Quando a música para, corre-se para ocupar um lugar. Alguém sobrará por vez. Vence quem sentar-se na última cadeira. Recordava disso quando associei o jogo à posição de timoneiro numa embarcação.

Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar

É ele quem me carrega como nem fosse levar

Foi assim que pensei na minha sorte (aqui como sinônimo de destino, como a Vanessa ensinou a entender). Desde cedo, muito cedo, coube a mim guiar os rumos dos barcos em que me meti – nem sempre sozinho, diga-se. Não sou eu quem toca a música, nem escolho quando ela cessa. Quando vejo, porém, lá (ou cá) estou eu cumprindo a missão de timoneiro.

Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar

É ele quem me carrega como nem fosse levar

Isso que me acontece não traz exultações ou queixas. Parece ser apenas a sorte que as ondas carregam consigo até chegarem ao meu casco. Ora em maré cheia, ora em vazante; às vezes em calmaria e, muitas delas, domando o mar revolto; com e sem vento, há sempre um porto a ser conquistado e pessoas embarcadas no mesmo plano, no mesmo sonho.

Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar

É ele quem me carrega como nem fosse levar

Há quem rotule este destino como ambição ou desejo de aparecer. Ser ambicioso e exibido, garanto, não basta para assumir o timão. Qualquer timão. Deve ter outras tramas nesta rede em que a todo instante me envolvo. Certo é que uma das músicas que embala meu destino é Timoneiro, do grande Paulinho da Viola. E quando ela para, ocupo a última cadeira.

Novo começo por fim.

Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar

É ele quem me carrega como nem fosse levar


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