Torre

Acordei!

Assim que abri os olhos, vi uma torre alta, imponente, que marcava meu novo começo. Um novo lugar.

As casinhas, uma em cima da outra, o que chamavam de prédio, provavelmente onde eu moraria com outras pessoas. Desconhecidas, buscando um recomeço. Como eu.

Ao chegar no porto, me deparei com vários armazéns que, provavelmente, já foram os lares dos meus antepassados, os ciganos. O passado, a miséria, a crueldade me invadira, quanta memória teriam as paredes daquele lugar?

Quantas vezes a torre não desmoronou ali? Afinal, minha vozinha já me dizia que onde ela aparecia sempre havia rupturas. Lembro das leituras de suas cartas: Morgana, saiu a torre, prenúncio de rompimento, de dificuldades, de separação. Quando avistar uma torre, peça proteção a Santa Sara Kali, as estruturas irão se romper e o fervor dentro de ti não poderá mais ser contido.

Olho novamente para cima. Não vejo desmoronamento e sim, um recomeço. Alto. Majestoso. Honrando meus ancestrais.

Seguia entre os armazéns, as paredes conversavam comigo, conseguia ouvir meus ancestrais rindo, conversando e bailando… Optchá! Nas memórias que vinham até mim, não havia tristeza, somente alegria e dança.

Cheguei na minha casa, ela ficava em cima de outras cinco. Dava três passos largos e pronto, andei em toda casa. Abri sua única janela, vi um lindo céu azul esverdeado como o vestido de Sara Kali e, no centro, a torre.

Dormi. Acordei. Fui até a janela, ouvi uma voz, como se fosse de Santa Sara do alto da torre, me lembrando que, tudo podia desmoronar, ferver, todavia das cinzas, eu poderia me reerguer, me reinventar e viver.

Sim, encontrei meu recomeço e a torre seria a minha carta da sorte!

***

Vozinha deveria estar bailando com meus ancestrais ciganos no alto da torre.


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