Sobre-vivências

A vida é um pedacinho de muitos pedaços, e esses muitos pedaços dão forma a minha vida. Sei que mais de um desses meus pedacinhos não sobreviveram as minhas vivências, e prefiro pensar que foi queima de arquivo. Penso assim, se os tive, é porque estavam no script, se já se foram, é porque não são mais necessários, simples assim.

Na vida da gente, na minha vida, o amor ocupa o lugar de astro principal. E aqui falo de amor por estar escrevendo a respeito do que sinto ao pensar na vida de Nega Lu, personagem de múltiplos talentos da boemia noite de Porto Alegre. Noites essas dos anos 1980 e em plena ditadura militar, nada fácil.

Em meio às cinzas esquinas de prédios antigos e nuvens em preto e branco, com

direito ao arco-íris acompanhando os mesmos tons, surge o grafite de um ícone porto-alegrense chamada Nega Lu. O amigo Tom capta em forma de fotografia nuances de cores carentes de cores vibrantes, que registra um tempo nada carente de emoções, transgressões, censura, e, trabalho duro para poder sobreviver. Tempos cinzas.

E lá vinha Nega Lu. Para ela não tinha perder uma batalha, perspicaz e em pequenos passos mexeu com uma sociedade, com uma cidade. Foi o que pude entender a respeito de sua vida. Cantando em corais ou dançando música clássica ou fantasiada, vinha com tudo, vinha causando.

No público e coletivo, Nega Lu tinha princípios a defender, preconceitos a oxigenar e sem dúvida atingiu a opinião urbana, mexeu com o conhecido. Naquele tempo, nem tão simples assim…


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