Pessoas-monumento

Monumentos como o Laçador, representação simbólica do povo gaúcho e imagem que dá as boas-vindas aos que chegam a Porto Alegre, para além de enfeitarem as cidades, servem também para preservar valores, imortalizar alguma bravura, registrar algo que não se deve esquecer jamais. O que cai muito bem no bronze e nas estátuas que existem espalhadas pelo mundo, atraindo turistas e prestando-se como cenário para fotos e vídeos.

Mas fiquei pensando nas pessoas que parecem monumentos e que, ao contrário desses citados acima, não adornam lugar algum, muito menos as próprias vidas.

Não tem certeza se já viu ou encontrou alguma por aí? Preste atenção nas características a seguir:

 
pessoas que estacionaram em algum ponto do passado e que têm certeza absoluta de que naquela época tudo funcionava na maior perfeição, inclusive as relações familiares e o governo;

 
pessoas que usam com frequência a expressão “no meu tempo”, como se nada mais valesse a pena viver;

 
pessoas que, diante das críticas do parceiro, dos colegas, dos amigos, dos pais, irmãos, filhos ou netos, dizem que sempre foram assim e pronto e que os incomodados se retirem;

 
pessoas que têm certeza que são melhores que os outros, não importa em qual aspecto;

 
pessoas que acham que já sabem tudo;

 
e não para por aí.

A grande vantagem de uma pessoa-monumento em relação ao monumento de bronze é a facilidade com que se dá a sua restauração e manutenção. Tomemos o exemplo do Laçador. Para salvá-lo das fissuras e rachaduras que nos próximos dez anos lhe causariam danos permanentes, foi necessário demolir o pedestal onde estava apoiado, içá-lo, colocá-lo dentro de uma gaiola e transportá-lo. Após três meses de trabalho, voltará ao seu local de honra na entrada da cidade. Já uma pessoa-monumento, basta que deite a cabeça no travesseiro, ou no divã, que converse com um bom ouvinte ou consigo mesma, e que, talvez o primeiro passo de todos, reconheça sua condição.

Para ambos é preciso um infindável cuidado, embora pelas razões opostas. Se no monumento de bronze o esforço é para deixá-lo sempre igual, na pessoa-monumento a ideia é causar rachaduras, para que a vida volte a fluir.

Agora que já sabe bem como são, reconhece alguma pessoa-monumento ao seu redor?


gostou? comente!

Rolar para cima