Não é unanimidade, mas muitos gaúchos veem a estátua do Laçador, do escultor Antônio Caringi, de Pelotas, como a autêntica indumentária gauchesca. Ela habita, atualmente, seu sítio próprio, próximo ao aeroporto de Porto Alegre. Tudo muito bem posicionado para ser visto por quem entra ou sai da cidade, mesmo que apenas de passagem. Foi eleita como símbolo da capital do Rio Grande do Sul, ganhando por pouco do famoso pôr do sol do Guaíba.
Em quase dois metros e meio de bronze sobre outros dois metros de pedestal de granito, com quase cinco toneladas, temos ali a pilcha completa: bota, bombacha, chiripá, guaiaca, pala, lenço e chapéu (boina), adornado com esporas, adaga, facão e laço. Devo lembrar que o modelo usado para a confecção da obra era o urbano Paixão Côrtes, pouco afeito as lides do campo, pampa, um estudioso, folclorista.
Alguns dirão: “lá vem esse carioca querer falar de nossa história e tradição”. Não. Não pretendo ir por aí. Bastaria apenas pedir para que as pessoas dessem uma passeada pelos campos e cidades do estado para que vissem que essa roupa nada tem de usual e pouco representa a história. Para esse outro assunto traria as roupas “farrapas”, mais próxima dos “lanceiros negros”. Feita a digressão, voltemos ao que interessa.
O nome já indica, se é um “laçador”, o que interessa é o laço. Laçar é uma tarefa campeira para poucos e que necessita, entre outras coisas, de montar bem e ter um cavalo quase como um parceiro. Um outro tipo de laço, não esse aqui de que falamos. Vir a ser um exímio nessa arte demanda muitas horas cavalgando e outras tantas girando e lançando a corda que vai envolver o alvo. Precisa de tempo e espaço para repetir e treinar até a exaustão. Quem faz esses serviços a vida inteira tem mais possibilidade de o ser.
Uma corda longa, feita de trançado cuidadoso, encerada, com material de qualidade para durar, é o instrumento ideal. Mais longas ou mais curtas, dependendo do uso que vai ser feito, cada uma tem um cuidado especial ao usar e para manter. A laçada fixa, com proteção de couro para o corrimento perfeito da ponta segura pela mão é um detalhe que pode garantir a perfeita pega do animal, sem machucá-lo.
Como escrevinhador (isso me lembra o mineiro Cyro de Mattos), lanço por aí meus laços de palavras para tentar alcançar alguma pessoa que me leia com cuidado. Ou, talvez, alguma boa companhia que queira, quem sabe, embevecida pelas voltas desse cordame, criar comigo outros laços.