Saúdo as águas, morada de mamãe! Odoyá! Ora Yê iê!
Vejo a cidade lá longe, distante, aqui nas águas, sou de mamãe, sou das águas e não da cidade.
Velejo devagar até o farol, morada do marinheiro que me limpa, protege e cura junto com as mamães das águas. Logo que chego, ele já diz: magrela, por que demorastes tanto? Para a vida fluir, precisa se limpar, se proteger e nadar com as ondas, deixar fluir, confiar e entregar.
Eu, sem jeito, fico em silêncio, só refletindo o quanto eu confio e entrego. Passamos pelo nosso ritual. Marinheiro me limpa e me protege, traz recados de mamãe. E eu choro.
Chorar é uma limpeza poderosa e me revigora.
As minhas lágrimas não param de cair e ouço a voz de mamãe me dizer: a água é poderosa, absolve, acumula e descarrega as energias, é o elemento da fluidez, condutora de vibrações.
Depois de suas palavras, sinto a água de todo meu corpo, sou água, diluindo na imensidão daquelas águas.
Me reencontro com mamãe, enquanto marinheiro me observa.
Odoyá, minha mãe!
Odoyá!