Dó-Ré-Mi

Há mais de 20 anos, tive a oportunidade de participar de uma tarde de musicoterapia no meu trabalho. Foram pouco mais de três horas de atividades, mas aqueles momentos me trazem boas lembranças. Até então, não percebia como a música tinha poder sobre a nossa alma, mas como sou metida mesmo, tratei de me inscrever no coral que foi oferecido aos funcionários.

Semanalmente, eu vivia uma terapia em grupo em meio a solfejos e gargarejos. Era um momento de alegria, quando deixava todos os problemas longe e me entregava às melodias. Em estado de quase transe, eu tirava os versos do automático e me emocionava com músicas que cantava desde sempre. Foram quase dois anos de dó-ré-mi, com direito a apresentações em parques, em festas de final de ano e em eventos de voluntariado.

Certa vez, passei um sábado cantando num asilo. Como era final de semana, praticamente todos os colegas fizeram o mesmo que eu: levaram a família para acompanhar. O lar, repleto de cabelos prateados, ganhou novas cores e sons. A interação entre palco e plateia começou tímida. Aos poucos, cada um foi se entregando ao que ouvia. Com vozes frágeis, cantarolavam o jardineira por que estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu… Uns sabiam bem as letras, outros recordavam das estrofes, uns seguiam com lá, lá, lá. Muitos se balançavam, fazendo com que o ritmo os embalasse. Todos sorriam. Agradeciam.

Nosso coral acabou o dia com a sensação de ter ganho na loteria. Difícil de pôr em palavras o que havíamos vivido. Saímos de lá sabendo que, mais do que levar cultura a pessoas que quase sempre são esquecidas, estávamos plantando uma sementinha de um presente melhor.


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